domingo, 12 de junho de 2011

Entrevista de Daniele Bach com o escritor Ismael Caneppele




A aluna Daniele Bach do último da graduação em Letras da UEPG e participante da comissão cientifica do VI CIEL, realizou uma entrevista com o escritor Ismael Caneppele, que participa no dia 22 de junho, às 19h, da mesa redonda “As novas linguagens e os sujeitos nos espaços”. Além disso, a Mostra de Cinema do VI CIEL, exibe dia 21 de junho, 9h, o filme “Os famosos e os duendes da morte”, adaptação homônima do romance de Caneppele.


Primeiramente, alguns dados pessoais, você nasceu em Lajeado, e há quanto tempo mora em São Paulo?

Moro em SP há 14 anos.

Quando e como surgiu “Os famosos e os duendes da morte”?

Surgiu em uma volta para Lajeado em uma tarde com uma prima adolescente sobre a ponte de ferro. Eu já morando em SP há nove anos e ela me contando sobre sua vida em Lajeado. A forma como ela utilizava a internet insinuava janelas que ela, tão longe da vida real, conseguia visualizar. Sentir quem sabe até. Vi uma outra vida acontecendo em uma cidade que havia abandonado havia tanto tempo e decidi escrever sobre isso.

O uso dos apelidos “Mr. Tambourine Man” e “Jingle Jangle” contrasta de que forma com o nome dos outros personagens?

Mr Tambourine Man e Jingle Jangle possuem uma identidade virtual. Vestem-se de um avatar. Desterritorializam-se para habitar um outro espaço. Ambos são a grama que cresce entre as pedras. As pedras são os personagens que habitam apenas uma realidade. Diego, Carol, Julian… Ao contrario de todos os habitantes da cidade, Mr Tambourine Man e Jingle Jangle apropriam-se de uma nova identidade e eternizam-se através de pixels.

 "Quando você acorda, a vida já passou". Relendo esse trecho, pensei em algumas comunidades do Orkut como "Jovens Idosos" "Eu sou um jovem idoso" , cujas descrições dão uma sensação de fuga, desencaixe, como você vê essa denominação de "jovem idoso"?

Acredito que basta perceber o tempo para sentir-se velho. A constatação da passagem do tempo desencadeia a nostalgia e essa nostalgia é a geradora da saudade constante. Gosto de jovens com alma velha e seria facilmente membro de uma dessas comunidades. Por outro lado, essa frase específica, “Quando você acorda a vida já passou” não diz respeito aos jovens idosos, mas aos idosos que talvez tenham se dado conta da passagem do tempo já um pouco tarde demais. Quando se tem essa noção de que tudo vai passar, já está acordado. Quem fala que quando você acorda a vida já passou é o desacordado. Aquele que não viu o tempo passar. O jovem de alma velha vive a perda e está desperto para a fatalidade do tempo.

Os sons (o barulho do trem, o latido dos cães, o sino) chamam bastante a atenção. Como você vê a função deles na história?

São partes do cenário. Em cidades pequenas o silêncio das máquinas dá lugar ao barulho incessante da natureza, o que pode ser bastante perturbador. O silêncio do interior inexiste. Por outro lado os cães são também um instrumento de poder. O vigia da propriedade. Vilanizo os cães pois os detesto. Nada mais detestável do que o latido de um cão do outro lado de uma grade. Vigiar. Anunciar. Berrar presenças. Cães são de uma deselegancia impar.

Por que a escolha do termo alemão Geheimnis?

Tenho essa palavra tatuada em meu corpo. Quando a tatuei queria apenas escrever “segredo”, que é a tradução mais literal. Depois de um tempo descobri que geheimnis poderia derivar gehen heim. Ir para casa. E muitos outros pensamentos sobre essa palavra chegaram até mim. Precisei usá-la no livro pois era uma boa tradução para o que eu quis dizer: ir para casa é o segredo: geheimnis.

Você fez muitas mudanças no livro após o roteiro do filme?

Foram dezesseis reescrituras. Aproximadamente oito antes de ter um primeiro tratamento do roteiro e o resto na sequencia. Mesmo com o livro já na tela dos festivais de cinema, eu ainda trabalhava na escrita.

 Alguns críticos têm falado da relação da tua obra "Música para quando as luzes se apagam" com o estilo de “O apanhador no campo de centeio”, de Salinger, você conhece o livro? E o que acha da relação? Conte-nos sobre "Música para quando as luzes se apagam".

Não conheço Salinger. Já tentei ler O Apanhador para tentar sacar a tal da influencia, mas o livro não me pega. “Música” é um punk rock. Inspirado em bandas como Strokes e Libertines, o livro é um mergulho na cabeça de um adolescente de 14 anos. Escrevi pelos adolescentes. Foi um exercicio de tosquear a escrita, de deixá-la crua. Feia. Repetitiva. Amadora. É um livro que tenho certeza de que irei gostar mais e mais conforme o tempo for passando. Não sei mais escrever daquela forma tão simples.

Há algum escritor específico que tenha influenciado o teu trabalho?

Leonard Cohen, Bob Dylan, Cat Stevens, Paul Simon, Caetano Veloso, Joni Mitchell, Renato Russo, Morryssey, Pete Doherty, Patty Smith, Cat Power, PJ Harvey, Bright Eyes, Adam Green, Roger Waters, Lennon, Paul, Ringo, Jagger...

 Quais são os teus projetos no teatro e no cinema?
Em cinema concluí o roteiro de “A Baleia”, thriller sexual que protagonizarei ao lado de Andrea Beltrão e em teatro uma peça-documentário intitulada Kollwitzstraße 52, sobre vivencias coletivas em Berlim. Ambos os projetos tem a direção de Esmir Filho.

 Como você vê o papel da internet no cenário das artes hoje? E a  relação dela com o teu trabalho?
Fundamental, vital, intrinseca. Internet é a vida e age diretamente em tudo o que fazemos e pensamos. Mundo virtual e mundo real cada vez se confundem mais. Adoro a linguagem rápida dos blogues. A interação das redes sociais. O contato com parceiros de trabalho através de skype. Conexoes virtuais passam a ser reais quando interferem diretamente na nossa realidade. É tudo uma coisa só e vai ser cada vez mais.

 E quais são as tuas expectativas para o VI CIEL?
Espero que as idéias estejam todas fervendo. Discussão é fundamental para oxigenar pensamentos.


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